25 - ONDE ANTES NADA ACONTECIA, TUDO MUDOU
Ana Carlota tentava viver os dias com a naturalidade possível, mas a guerra não lhe fez a vontade, e ela bem cedo começou a construir e imaginar uma outra realidade, uma em que a vida não lhe tivesse roubado Eduardo e apenas a fizesse sorrir. O rio que se estendia junto à grande propriedade passou a ser o seu único conselheiro, e o mais fiel dos amigos. Ela deixou de falar e fechou-se num mundo só dela, olhava para o chão branco do seu quarto onde ficava sentada e nele se via refletida, como num espelho. Imaginava Eduardo perto de si, e recordava a festa do seu noivado onde os dois dançaram as valsas de Strauss pela noite dentro. Este espaço perdido entre sonho e realidade prendia-os à vida. Era ali que Ana Carlota conseguia sentir Eduardo, e era àquele lugar que ele acreditava conseguir regressar mal terminasse aquela loucura. Ana Carlota agarrou-se à memória dos momentos felizes que juntos partilharam, e rezava pela vida de Damião, ali, naquele lugar perdido entre so