24 - A MAGIA DE MATSUBA




Quando alguém sonha, não é muito comum ver-se a si próprio a dormir dentro do sonho. Carlota detestava quando isso lhe acontecia, era algo que a agastava. Matsuba sabia que Ana Carlota não apreciava olhar para o seu corpo adormecido dentro dos sonhos. Ela nem desconfiava que tinha sido a carpa quem ajudou a que ela chegasse até aquele espaço que ficava encravado entre sonho e realidade. Mais difícil seria os dois tentarem, sozinhos, encontrar uma saída, mas tempo era coisa que não lhes faltava.
A ajuda da magia de espírito do rio era mais do que bem vinda.
A carpa encontrou-os e deu uso à sua sabedoria.
Ana e Eduardo foram transportados, no mesmo instante, para o meio de um enorme salão de baile. Os dois dançavam, com mestria, uma das mais famosas valsas de Strauss.
- Hoje é dia de festa, Carlota, não quero que penses em mais nada! Quem me dera que este dia pudesse durar para sempre.
Ana esboçou um sorriso, com os olhos humedecidos, carregados de receios, e com o peito a rebentar de dor, medo e ansiedade. O esplendoroso vestido de shantung verde musgo desenhava espirais perfeitas na pista de dança onde os dois giravam, de cabeças levemente inclinadas, e sem falharem um passo. Os convidados não conseguiam afastar os olhos do casal. Eduardo Damião iria juntar-se à primeira brigada do Corpo Expedicionário Português que zarparia do Tejo no final do mês de janeiro de 1917, rumo a Brest, para depois avançar até à Flandres francesa para combater as tropas alemãs, junto à fronteira belga.
Este era o último momento de descontração do jovem casal recém casado nos tempos mais próximos. A incerteza acerca do seu futuro pairava no ambiente festivo do salão, apesar de todo o requinte e fausto da cerimónia.


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