11 - PERDIDA NO DENSO NEVOEIRO




Uma tempestade escutou-se ao longe e as águas do rio pararam, e os peixes deixaram de nadar, e o barqueiro ladrão ficou quieto tal como o barco. Por cima deles, no exato local em que se encontravam, nuvens escuras e sinistras tomaram conta do céu.
O vento deixou de soprar.
Apesar de Ana Carlota se conseguir mover com naturalidade, tudo o resto estava estático como um gigantesco holograma.
Não se escutavam quaisquer sons ou ruídos.
Deixou de ser possível distinguir a temperatura que fazia.
A luz do sol apagou-se, deixou de facultar a cor aos objetos mergulhando tudo em tons de branco, preto e cinza. E para quem julgava não poder acontecer uma estranheza maior, a paisagem e todos os objetos ganharam uma transparência rara que os fez desaparecer. Tudo o que era nuvem, ou gente, ou coisa, desvaneceu-se, até que só ficou o nada numa vastidão de branco onde reinava um nevoeiro cerrado.
Ana Carlota ficou espantada com o acontecimento, mas o seu espanto inicial cedo foi substituído por uma tranquilidade que parecia brotar daquele deserto de luz esbranquiçada.
No meio do nada, a única coisa sensata a fazer era esperar.
Carlota esperou.
Apalpou o chão branco para melhor lhe sentir a dureza e a aspereza, sem ser capaz de dizer se era duro ou macio, áspero ou polido, apenas sabia que ali existia um vazio enorme. Ela sentou-se, de pernas cruzadas, à espera, depois deitou-se de lado, e depois de costas. Virou-se para o outro lado, com as pernas encolhidas, e colocou as mãos por debaixo do rosto para procurar uma posição mais confortável. Gastou muito tempo em tentativas vãs, pois nunca o conseguiu. Ela só queria descansar, e jamais pensou em adormecer ali no meio do nada, onde se sentia tão minúscula e insegura, tão pequena, tão frágil e perdida.



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